Inspirado nas listas de Power e de Black Metal.
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Como ser um True Prog Metal, para músicos e fãs.
Intro
1 – Todas as regras derivam desta: você sabe MUITO! (regra Mãe);
2 – As pessoas precisam saber que você sabe muito;
3 – Suas músicas precisam conter tudo o que você sabe de técnicas, que levaram uma vida inteira para serem aprendidas;
Part I – das músicas
4 – Para caber todo seu conhecimento, suas músicas têm que ser longas. Quão longas? O suficiente para fazerem as chamadas “épicas” do Power Metal parecerem jingles;
5 – Você não pode saber muito só de música: estude bastante vários assuntos; eles servem de fontes para as composições;
6 – As músicas devem ser recheadas de referências, algo que demande notas explicativas nos encartes;
7 – As referências podem ser musicais ou dos diversos conteúdos que você estudou, preferencialmente os dois;
8 – Os gênios da música clássica são excelentes referências;
9 – Você pode citá-los com uma colagem orquestrada de abertura (que você chamará de Prelúdio), mas é bem mais true prog tocá-los no próprio instrumento;
Part II – dos músicos
10 – Chega de guitarristas aparecidos: todos na banda são aparecidos e tocam muito;
11 – Todos os virtuosi precisam de espaço: todos solam;
12 – Para caberem todos os solos, aumente o tamanho da música (vide 4);
13 – Para ainda assim caberem mais solos, abuse de duetos;
14 – Não restrinja duetos a “guitarra + x”; uma base de guitarra durante solos de bateria e baixo é true prog!;
15 – Se conseguir uma base de vocal, é ainda melhor;
16 – O tecladista tem que ser a reencarnação do Bach ligada na tomada;
17 – O vocalista é o que menos aparece. Pode até estar ausente, como normalmente o faz na hora dos solos, para não ficar 10 minutos deslocado no palco;
18 – Mas, se quiser ter um vocalista, ele tem que ser muito bom;
19 – Contratempos. Contratempos demonstram técnica rítmica apurada. Use-os sem moderação;
20 – Baterista, reserve a caixa para contratempos. Marque os tempos no chimbal;
Interlúdio – mais música
21 – 4/4 é para amadores; utilize fórmulas de compasso diferenciadas, de preferência compostas;
22 – Se não consegue se decidir por determinada fórmula de compasso, está com sorte: trocar de fórmula várias vezes numa mesma música é true prog! Na dúvida, vide 4;
23 – Aliás, a progressão é o barato: comece com uma coisa e acabe em outra completamente diferente;
Part III – dos álbuns
24 – Extrapole 23 criando várias músicas dentro de uma faixa, e nomeie cada uma com “part” e um número romano;
25 – Estude números romanos; só I, V e X podem não ser suficientes;
26 – Assim como várias músicas podem criar uma faixa, várias faixas podem gerar uma peça maior. Chame-a de “Suite”;
27 – Distribua as faixas de uma Suite como quiser: podem ser em sequência em um mesmo álbum, mas se estiverem espalhadas nele fica mais true prog!;
28 – Se espalhar em vários álbuns, fica mais true prog ainda!;
29 – Se conseguir distribuir as faixas das Suites em bandas diferentes em que você toca, você é muito foda!;
30 – Um recurso muito comum é abrir uma Suite numa faixa, e anos depois criar um álbum conceitual inteiro para completá-la;
31 – Literatura é uma fonte prolífica de temas para Suites. Leia bastante (vide 5);
32 – Epopeias no idioma original e em versos são fontes true prog que fazem músicas pseudoépicas de Power Metal parecerem contos de fadas, e curtos (vide 4);
33 – Seja qual for a fonte literária escolhida, a abordagem é crítica. Componha a letra de modo que ela possa ser usada em defesas de teses de cursos de Letras;
Part IV – dos fãs (prelúdio)
34 – Reforce a regra 31: seus fãs lerão as fontes literárias utilizadas e compararão com a música para ver se você compôs direito;
35 – Aliás, seu fã o venera, mas é seu maior crítico; vacile na frente dele e estará destruído. Por isso, sempre retorne pra regra Mãe;
36 – Fãs de prog tocam algum instrumento;
37 – Fãs de prog querem formar uma banda de prog, mas só os que sabem muito conseguem;
38 – Uma banda de prog cover tem o mesmo valor de uma prog de música própria; de qualquer forma, tem que saber muito pra tocar em uma;
39 – O público de uma banda de prog cover está mais ávido pra vê-lo errar do que se os originais estivessem no palco;
40 – Mas é quando você não erra que ganha o mesmo respeito dos originais;
41 – Com esse respeito, você transforma os fãs em alunos (regra Mãe);
42 – Você perde alunos rapidamente, por eles não conseguirem aprender tanto;
43 – Forme uma banda de prog com seus melhores alunos e comecem a compor ou tirar as músicas;
Part V – Progging
44 – Repare: o termo “prog” tem mais peso que “metal”;
45 – Tudo bem sua banda de prog metal ter músicas menos pesadas que algumas de prog rock (vide 44). Só se certifique de que elas contêm muito conhecimento na composição;
46 – Tudo bem compor baladas, contanto que sejam longas ou sejam Parts de uma faixa longa;
47 – Esteja ciente de que baladas longas tocadas ao vivo dão sono no público;
48 – A menos que você seja do Dream Theater, dose o número de baladas escolhidas para o setlist;
49 – Baladas são um excelente meio para usar instrumentos diferentes, muitas vezes acústicos; virtuosismo em todos eles!;
Part VI – dos músicos (segue)
50 – Virtuosi não precisam de powerchords; acordes completos com intervalos raros denotam conhecimento;
51 – Conseguir peso com acordes completos é só pra quem manja muito;
52 – Arpeje seus acordes bizarros; dê peso nos arpejos;
53 – Arpeje mesmo no baixo;
54 – Se você reclamar que não tem as notas à mão pro arpejo no baixo, é porque seu baixo não tem cordas suficientes, ou você não tem técnica o bastante. Provavelmente ambos;
55 – Baixos de 6 cordas, mínimo;
56 – Se você for o Geddy Lee, pode usar um baixo de 4 cordas (vide 44 e 45);
57 – A guitarra também pode ter mais de 6 cordas; facilita pra evitar afinações bizarras a cada música;
58 – Tenha afinações bizarras mesmo com muitas cordas na sua guitarra ou baixo;
59 – Virtuosismo > velocidade, nunca se esqueça! (vide 44);
60 – Virtuosismo + velocidade = true prog!;
Part VII – live & stuff
61 – Defeitos em algum instrumento são uma ótima oportunidade para os demais integrantes improvisarem jam sessions. Improvisações são só pra quem sabe muito;
62 – Jam sessions levam fãs à loucura e os fazem esquecer que não viram o show por que pagaram (só cuidado com a regra 35);
63 – Jams implicam conhecimentos de jazz, outra rica fonte musical de referências para serem somadas aos clássicos da regra 8;
64 – Além de jazz e música clássica, conheça outros estilos musicais para enriquecer suas composições. Regra 6: quanto mais referências, melhor!
65 – Desencane de colocar as notas explicativas das referências nos encartes e deixe que os fãs preencham nas páginas da Wikipedia;
66 – Retome a regra 19 e capriche mais nos contratempos;
67 – Nos shows, incite a galera a bater palmas com a música, mesmo que os contratempos tornem isso impossível;
Part VIII – fãs revisited
68 – Fãs de prog treinam o ritmo das músicas em casa para conseguir acompanhar as palmas em contratempo durante o show;
69 – Como fã, estude bastante para reconhecer as fontes citadas por seus ídolos e poder preencher as páginas da Wikipedia antes dos outros;
70 – Se for cantarolar uma música, nunca perca o tempo de reentrada do vocal, por se distrair após o longo solo;
71 – Ao assistir a um show, posicione-se em frente ao músico que toca o mesmo instrumento que você, para poder aprender e avaliá-lo ao mesmo tempo;
72 – Ao conversar com outros fãs, utilize a regra 2 com o mesmo rigor dos compositores. Não se preocupe em parecer chato; eles também estarão empenhados;
73 – Agrupe Suites em playlists e descubra que elas se emendam tão bem como com as faixas sequenciais de seus álbuns;
74 – Tente convencer seus amigos não true prog fans da beleza das referências e das técnicas empregadas. Em vão.
75 – Desista até de convencer seus amigos de outros estilos de metal, e conforte-se com a regra 44;
Part IX – epílogo
76 – Preste sempre atenção em números cabalísticos (3, 6, 7, 11 e suas variações) e simetrias nas faixas, músicas e discos para poder apontar nas referências da Wiki;
77 – Crie divisões para os blocos de regras, e nomeie-as como Parts, e fique se achando por acreditar que fez algo parecido com esses gênios.
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André
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